sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pimenta Na Jurisdição Dos Outros É Refresco



O Estados Unidos da América é um país que tem muito a ensinar ao ocidente contemporâneo - em se tratando de direito constitucional, pelo menos-, pois, desde sua independência, em 1783, a constituição permanece inalterada, inclusive – por incrível que pareça- as cláusulas que tratam do direito à liberdade. Ou seja, é mais ou menos como vovó já dizia: “todos são inocentes até que se prove o contrário”.

Mas alguém poderia instigar: como os norte-americanos podem tanto se gabar de sua liberdade, defendida com unhas e dentes em sua carta magna, se mantêm prisioneiros, que nem acusações têm, por mais de 3 anos confinados, sem direito a advogado, ou direito a responder o processo em liberdade, ou, sequer, o tão básico “direito a um telefonema”? Qual a mágica para um país manter-se soberano, conclamando-se o defensor dos direitos civis, e, por outro lado, fazer uso indiscriminado da tortura – física, psicológica e moral - e de tantas outras formas degradantes de exibir sua soberba imperialista? Bem, a resposta é simples - talvez não tão simples assim. O primeiro passo para essa façanha é ser um trapaceiro de mão cheia. O segundo é contar com boas quantias de dinheiro – conseguidas através do passo 1. E o terceiro - e mais importante - é adquirir, através dos passos 1 e 2, um grande poder de barganha com os demais Estados falidos. E pronto, é assim que o Tio Sam mantém sua conduta de defensor da liberdade e, em contrapartida, é o algoz mais pecaminoso dessa rocha flutuante em que moramos.

Após a “independência” de Cuba, em 1898, graças a “ajuda” indispensável e abnegada dos Estates , a ilha do açúcar ficou completamente sitiada pelas tropas americanas, as quais tinham a nobre missão de manter – a qualquer custo – a ilha livre – palavra usada em todas suas variantes por nosso primos ricos. Entretanto, para fazer esse favor, os norte-americanos precisavam de um território, para que pudessem cumprir sua intenção de manter a liberdade - olha ela de novo aí. O território, cedido por governantes entreguistas – cupixas dos americanos -, é Guantánamo. Lá, uma base naval foi implantada, e através da emenda Platt foi garantido aos estadunidenses o direito inconteste de intervir, sempre quando necessário, em Cuba.

Pois bem - resumindo a ópera - o resultado disso foi que Guantánamo, de base naval, se tornou principalmente uma prisão sem lei, onde para ser preso, basta estar livre e falar árabe, ou usar turbante, ou ter barba de árabe, ou ser muçulmano, ou ... Bom, motivos de sobra existem para se ser levado a Guantánamo; para sair de lá, entretanto, os motivos já rareiam um pouco. Muitos dos presos que foram para esse paraíso dos psicopatas com bandeira verde para torturar e realizar todas suas fantasias inescrupulosas não voltaram. E os que voltaram, nunca mais serão os mesmos. Como o caso de Haji Nusrat Khan, um afegão paraplégico de 80 anos, que foi levado de maca a Guantánamo, após o Departamento de Defesa americano acusá-lo de lutar no campo de batalha. Haji Nusrat Khan, apesar de ser paraplégico, tinha suas pernas acorrentadas, mesmo dentro da minúscula cela na qual era confinado. Além de Haji Nusrat Khan, muitos outros foram presos por acusações infundadas; e outros, ainda, sem nem ao menos acusações terem, simplesmente por serem “criminosos em potencial”.

O que exatamente se passa em Guantánamo ainda é obscuro à sociedade. Todavia, com as poucas informações vazadas, já se dá para ter uma noção da barbárie vivida por esses prisioneiros submetidos à tortura chinesa, afogamentos, vexames de toda arte e, acima de tudo, à degradação de terem suas convicções e ideais subjugados.

Mas o que os Estados Unidos têm haver com isso? Afinal esses acontecimentos não fazem parte da jurisdição deles, ora bolas...

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