sexta-feira, 31 de julho de 2009

O Poder Televisivo


É de costume as pessoas mais intelectualizadas terem o hábito clichê de repudiar a televisão. Entretanto, essa recusa baseia-se em um medo difuso, não muito bem consolidado, tampouco objetivo. O receio que paira sobre as mentes abertas é de serem apanhadas pela pavorosa alienação. Mas pouco se reflete como um simples aparelho pode ser genitor de uma causa tão espúria e macabra. A teoria fundamenta-se no seguinte:

Desde seu surgimento, a televisão foi feita pela elite e para a elite. Sendo assim, os “donos” do aparelho elaboravam programações especificamente para seus semelhantes, tendo em vista o altíssimo valor dos equipamentos, somente acessíveis à minoria elitizada econômica e culturalmente.

O tempo passou, e o grande negócio incipiente não seria capaz de manter-se, lucrativamente, sem sua popularização. E assim foi feito. Em pouco tempo, a televisão já estava na maioria dos lares do “povo”. Contudo, a programação sofreu mudanças drásticas somente em sua superfície, mas não em seu fundamento; a televisão continuou com seu caráter elitista; o povo via, mas não [se] via nela. As mudanças “drásticas”, na realidade, foram pequenos ajustes que possibilitaram ao “Homer” (como é tratado o “povo” por alguns marajás da comunicação, fazendo referência ao estúpido personagem dos desenhos animados) compreender minimamente o que estava sendo difundido. Criaram-se as telenovelas: nada mais do que cenas do cotidiano da elite, ou de um povo elitizado. Um cotidiano distante (do grego tele – distante) da realidade do povo, mas ao mesmo tempo, suficientemente cativante.

Então, o que se vê na televisão, hoje em dia, são, predominantemente, as excentricidades da vida: empresários ultra bem-sucedidos como Bill Gates; os homens mais influentes [do mundo]; as mulheres mais belas [do mundo]; os melhores jogadores [do mundo]; os maiores criminosos [do mundo]; a rainha dos baixinhos; o rei do pop; o fenômeno disso, a revelação daquilo; e, até, as pessoas mais feias; mais gordas; mais magras; mais isso, menos aquilo; e etc. No entanto, a percepção humana não interpreta essas personalidades excêntricas como apenas fragmentos sendo difundidas através de um aparelho que as agrega. Mas sim as percebe como se todas estivessem em um espaço físico único e determinado. Ninguém diz: eu vi fulano no programa tal. Todos dizem: eu vi fulano na [TV]. E essa informação basta para que todos entendam o significado desse código. Todavia, é descartada totalmente a enorme diferença entre ver alguém no programa sensacionalista da emissora retardatária, e ver essa mesma pessoa no programa de entrevistas da emissora segmentada, mas nem por isso menos influente.

Alguém estar na TV é o mesmo que esse alguém estar imerso em um mundo fantástico: uma sala na qual dividem espaço Ronaldo, Gisele, Michael Jackson, Airton Sena, Bush e etc. É como ser convidado para uma festa que somente os melhores, mais importantes e mais influentes são convidados. Estar na TV é ser parte integrante do mundo dos poderosos; é ser também um poderoso. Por essa razão, a televisão exerce esse poder quase hipnótico nos telespectadores.

A elite, mantendo restrito o acesso a esse meio, torna gratificante o fato de se ser “selecionado” a integrá-lo. Devido a isso, as pessoas não cobram para terem sua imagem exposta. Estar sendo divulgado já é a maior recompensa que alguém pode obter. O status de estar na mesma tela que o presidente dos Estados Unidos, ter o mesmo enquadramento que Elvis, usar o mesmo tempo de fala de Maradona e todas as outras características que são idênticas a qualquer pessoa excêntrica veiculada na televisão não tem preço.

Tudo isso forma a periculosidade da televisão. Uma afirmação dada na TV traz consigo toda a reputação e credibilidade do Papa, de Raul Seixas, da Madre Teresa, Paulo Freire e de qualquer outra personalidade que já foi meticulosamente selecionada para integrar o rol dos “escolhidos”. Desta forma é que se cria a fascinação por aqueles e por aquilo que “aparece” na televisão. Por essa razão que até os mais sábios, após sessões de lavagem cerebral indireta, podem passar a admirar pessoas inseridas no padrão de beleza; achar marcas, modelos de veículos e roupas mais atraentes; e realmente acreditar na superioridade de certos produtos alimentícios.

O medo da alienação reside em nossa desconfiança em relação às nossas faculdade psíquicas que podem falhar ao discernir os fragmentos que inundam a tela do todo complexo que é a televisão. Qualquer um sabe que certo programa não merece credibilidade, entretanto podemos falhar em repudiar a pseudo-veracidade desse programa, devido a toda a carga de credibilidade que outros programas em certas épocas transmitiram.

O grande risco que a televisão representa à sanidade intelectual é a fácil substituição da parte pelo inteiro. Precisamos doutrinar nossa mente a reconhecer cada fragmento exposto como apenas um fragmento e nada mais que isso. Sem carga passada ou atributos agregados. Cada momento televisivo deve ser um momento iniciado e acabado nele mesmo, sem deixar resquícios ou margem a interpretações subsequentes ou adjacentes.

O trabalho de ourives até podermos, em segurança, subtrair algo de útil do instrumento doutrinário das elites é árduo. Então, pelo sim, pelo não, deixá-la desligada é a atitude mais prudente.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Marxismo de Direita



Dando vazão aos protestos acalorados da esquerda, o Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul, com o aval do governo do Estado, toma uma medida que irá dar o que falar. Desta vez, a onça cutucada foi o MST, através do cancelamento do convênio com a entidade responsável por contratar e gerenciar professores para as escolas itinerantes, montadas nos acampamentos dos sem terra.

As escolas itinerantes pioneiras foram concebidas em 1996, no Rio Grande do Sul. A intenção delas era dar maior facilidade e comodidade para os alunos chegarem à escola, já que eram montadas no próprio acampamento em que estavam alojadas as famílias dos educandos e, por serem escolas “nômades”, poderiam ir e vir juntamente com os estudantes, sem que o andamento da matéria fosse perdido. Apesar de as escolas contarem com uma infraestrutura extremamente precária: lonas pretas como teto, cadeiras – quando existentes – velhas e as secretarias estaduais de educação locais nem sempre fornecendo os materiais didáticos essenciais, elas atingiram um grau considerável de desenvolvimento, estando, hoje, presentes em 6 Estados: Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Alagoas; distribuídas em 45 unidades e um quadro operacional de 350 educadores.

As escolas do movimento, ainda que contem com o apoio das secretárias de educação, mantêm sua linha pedagógica autônoma. O currículo é elaborado de acordo com as necessidades e possibilidades de cada região. Em alguns estados, como no Paraná, são trabalhados "ciclos", em vez de séries, oferecendo um tempo de formação necessário para o aluno obter aquele conhecimento. Ao passo que em Santa Catarina foi adotado a chamada educação multiseriada, com um ou dois professores para várias séries. Todas as escolas têm seu diploma reconhecido pelo MEC, e as palavras do Secretario de Educação do Paraná, Maurício Requião, salientam a qualidade atingida por elas: “Não sei se algum município consegue oferecer um ensino de qualidade tão grande como esse do MST”. Maurício disse, ainda, que esta é uma parceria extremamente gratificante, “pelo engajamento e paixão com que esses educadores dedicam-se às crianças e aos jovens”.

Outro fator importante para a gênese das escolas – e talvez, principalmente por esse motivo o interesse do governo direitista em desfazê-las – é o de elas serem centros de disseminação de ideais socialistas. Segundo o Procurador de Justiça do Estado Gilberto Thums, “essas escolas fazem uma lavagem cerebral para passar teorias marxistas. Os estudantes recebem uma educação alienante”. Para o procurador, o certo seria “orientar as crianças sobre a possibilidade de se integrarem ao mundo que está aí, ao mundo produtivo, e o MST quer implantar uma sociedade socialista”.

O quadro que se desenha é a velha queda de braço entre a direita conservadora e a esquerda radical, impasse que, na prática, não leva a lugar algum. De um lado, a direita querendo garantir sua tranquilidade e suas posses; do outro, a esquerda querendo angariar mais espaço no cenário político e - na teoria, pelo menos – modificar a sociedade, tornando-a – com as bênçãos de Marx – justa e igualitária.

O MST vem crescendo gradativamente, tornando-se um movimento cada vez mais respeitável e forte; entretanto, as manchas de sangue e destruição deixadas, muitas vezes, nas fazendas improdutivas pelas quais ele passou, sujam sua ideologia tão nobre.

MST: guerrilha ou movimento de contestação social? Nem um, nem outro; ou, talvez, os dois. Quando foi fundado, em 1984, em Cascavel (PR), a ideologia de sua cúpula dirigente, incontestavelmente, era a de um bom e dedicado movimento marxista; contudo, com o passar dos anos, após conquistar cifras que lhe propiciaram simpatia internacional: 1,5 milhões de afiliados; cerca de 350 mil famílias assentadas e outras 80 mil em acampamentos, a cúpula acabou por desviar suas mais urgentes reivindicações e passou a – não raras vezes – infringir leis e tentar impor seus ideais à força, com demonstrações de vandalismo e de violência, dando razão às argumentações direitistas que querem considerar o movimento uma guerrilha rural formada para destituir o Estado Democrático de Direito. Excessos sensacionalistas à parte, o que há, em verdade, é que, conseguido um lugar representativo no cenário político, sua “diretoria” – ou pelo menos parte dela - se vendeu à ambição - escamoteada no velho ideal socialista, que sempre soa de maneira altruísta. Não esqueçamos que usando desta artimanha de persuasão, Stalin ascendeu ao poder.

Embora não se dê para assinar em baixo em todas as ações do MST – principalmente as que envolvem: saques; homicídios em confrontos; tomada de propriedades, sem a anuência da justiça; invasões de domicilio; sequestros e porte ilegal de armas; sem contar o teórico envolvimento do movimento com as FARC -, as medidas pretendidas a serem adotadas pelo governo em conjunto com o Ministério Público não são aceitáveis em uma sociedade dita democrática.

Sem dúvida, existe muita sujeira por baixo das enxadas dos sem-terra, e é ela quem faz perdurar a lástima de muitas famílias as quais realmente estão engajadas por acreditarem nos ideais propostos pelo movimento. Enquanto ainda há cerca de 80 mil famílias reclamando um espaço para produzir, existem porções de terra, doadas pela União ao movimento, que continuam improdutivas: apenas têm casas e bandeiras para demarcar o território.

O camponês, quando adquire seu espaço, na realidade, não o adquiri de fato; pois, pelas diretrizes do movimento, não se pode ter o título de propriedade, já que isso feriria um importante princípio do socialismo pregado. Todavia, sem o título, o donatário da terra, só está ali enquanto cumprir com as exigências e anseios do movimento, o que, sem dúvida, permite a manipulação das massas.

Entretanto, é o absurdo do autoritarismo e da arbitrariedade, tanto colocar o movimento na ilegalidade quanto fechar as escolas campesinas. Se o MST é, de fato, uma "organização criminosa", como sentencia o procurador gaúcho, então devem ser tomadas, impreterivelmente, todas as medidas legais cabíveis. Uma máfia, uma gangue, uma quadrilha, ou o MST – quando infrator - devem ser cassados, julgados e punidos da mesma forma. Se há o desmantelamento de grupos criminosos, por que não haveria de ter o dos sem-terra? O governo não deve se fazer de vítima e dizer estar com as mãos atadas, pois o seu medo real é mexer no vespeiro que se tornou o movimento; dentro dele há muitas histórias e historiadores. Com o movimento sendo remexido, muitos partidários da oposição – e seus respectivos rabos-presos - estarão encurralados, e, então, não tendo nada mais a perder, levarão consigo muitos partidários da situação. Adotando essa atitude fascista, o governo mata dois coelhos com uma cajadada só: se livra do movimento de contestação e força popular, e, ao mesmo tempo, sepulta “males entendidos” do passado.

Podem vir falar, mas tudo é estória! As escolas devem ser mantidas! Se é lavagem cerebral ou não, depende do ponto de vista. Para um camponês, lavagem cerebral é a educação dada nas instituições regulares de ensino, as quais segregam - ou incluem muito pouco - a história e vivência dos sem-terra, preparando os alunos para um mundo consumista e egoísta. Se esta metodologia – a socialista pregada nas escolas itinerantes - estiver precipitada e não for compatível para o desenvolvimento dessas futuras crianças dentro da sociedade atual, infelizmente, quem arcará com isso serão elas próprias e os futuros governos. Elas por fatalidade do destino; e os futuros governos por incompetência dos gestores anteriores: corruptos e gananciosos que não souberam dizimar o mal pela raiz, através dos pilares básicos: saúde, segurança, educação, habitação e emprego sustentável.

Não me venham dizer que estão preocupados com o destino dessas crianças, pois o que elas têm de diferente das da vila do lado da minha casa? Por que as daqui passam a madrugada se prostituindo e cheirando Crack, e nem ao menos o conselho tutelar aparece para apurar as denúncias? As daqui, nem a escola conhecem. As de lá, ao menos, a certeza de que sabem ler eu tenho. Se leem “O Capital” ou “A Riqueza das Nações”, aí já são outros quinhentos.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Religião da Minha Vizinha


O Cristianismo, com o Edito de Milão, em 313 depois de Cristo, foi legalizado pelo império romano. Com essa medida, a religião, de plebeia, paulatinamente, ascendeu a patamares cada vez mais elevados, até que em 395 d.C., por decreto do imperador Teodósio, ela passa a ser a religião oficial dos romanos.

Com a invasão dos bárbaros, e a consequente derrocada do império, a Igreja firmou-se como instituição proeminente, pois fora a única de destaque que havia resistido às investidas dos povos forasteiros.

A aproximação entre Igreja e reis bárbaros, os quais ansiavam ter seu poder, enfim, legitimado, deu mais força à Igreja, que durante 977 anos foi a instituição hegemônica do mundo ocidental. O período hoje denominado Idade Média, que compreende esses quase mil anos, foi reconhecido pelos pensadores renascentistas do século XV como a idade das trevas, nome esse dado, segundo eles, devido ao atraso intelectual ao qual a sociedade feudal fora submetida. Atualmente, sabe-se que não é justa a denominação “idade das trevas”, pois, à sua maneira, a idade média contribuiu para o desenvolvimento da civilização ocidental. No entanto, também é sabido que a vida levada à base de fé, trabalho e guerra – principais dogmas pregados pela Igreja daquela época – não fora capaz de manter a sociedade imune às intempéries da evolução.

O Cristianismo, e a Igreja Católica principalmente, com o passar dos anos vê seu número de fervorosos adeptos reduzindo-se. Mesmo que o Vaticano sempre esteja oscilando entre déficit e superávit, os dados referente às suas finanças de 2007 são uma boa base a se ter do problema enfrentado pela Igreja: 9 milhões de Euros foi o rombo que o Vaticano anunciou ter. Essa perda de capital se deve, além das crises constantes do mercado, ao abandono, em massa, dos fiéis, que, entre outros motivos, alegam a inadequação da Igreja às novas tendências da modernidade, e outros, ainda, salientam a imoralidade e corrupção implantada do cerne da instituição.

Sacerdotes acusados por pedofilia – processos que deverão custar a bagatela de aproximadamente 2 bilhões de dólares em indenizações aos cofres da Santa Sé – é a principal razão de descontentamento dos adeptos. Além desses crimes, a Igreja já foi enquadrada em outros delitos “modernos” como o ocorrido no início da década de 80: a quebra do Banco Ambrosiano, de Milão, do qual o Instituto para Obras Religiosas (o Banco do Vaticano) era um dos principais acionistas. À frente do Banco do Vaticano, estava o arcebispo Paul Marcinkus, suspeito de envolvimento, como avalista, no esquema de empréstimos fraudulentos no total de 1,4 bilhão de dólares. Para piorar, Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, apareceu enforcado sob uma ponte do Rio Tâmisa, em Londres, levantando suspeitas de que fora assassinado como queima de arquivo.

Ao analisar-se a história com olhar crítico não se pode cometer anacronismos – perceber certas conjunturas de épocas longínquas com pressupostos atuais, ou vice-versa. Ou seja, só um fanático religioso não percebe que a Igreja, como um todo, é uma instituição corrompida. E essa corrupção vem de séculos, desde muito antes de Martinho Lutero pregar suas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, criticando ferozmente, entre outras práticas, a venda de indulgências.

Uma religião, uma filosofia, uma doutrina ou qualquer outro engajamento tem seu valor, desde que interpretado corretamente. É inconcebível, nos dias de hoje, meninas e meninos se dizerem adeptos incondicionais dos dogmas tradicionais da Igreja, pois eles foram escritos e utilizados por sociedades que desconheciam os “prazeres” das badaladas casas noturnas, ou os programas tão “sugestivos” que lotam os canais abertos de nossas televisões, ou toda a facilidade disponível para se “trocar informações” através de messengers, celulares e, principalmente, através da Internet.

Não é uma anomalia ver alguém dado inteiramente à devoção, muito pelo contrário, a facilidade de abrir-se essas “empresas da fé” tornou a religião uma epidemia mundial; qualquer um pode ouvir e saber as tais palavras de Cristo. O que muito me preocupa é saber como nossos adolescente conciliam as palavras do Senhor com as novas tendências em se divertir. O pensamento religioso é arcaico e retrógrado, todavia o mundo moderno é veloz e almeja o progresso a todo custo. Não me venham dizer que uma menina se produz toda para ir a uma “balada” com as amigas simplesmente pelo gosto de dançar. Nossas festas atuais, há muito abandonaram esse propósito. E além do mais, ninguém sai às ruas sem malícia; nos tempos modernos, a ingenuidade não é sinônimo de pureza, mas sim indício de retardo mental; nossas crianças já aprendem a “brincar” olhando nossos programinhas infantis, nos quais sempre há uma apresentadora sedutora que encarna o papel de musa dos nossos baixinhos e referência de nossas baixinhas. No berço mesmo, os meninos já aprendem o que é tesão; e as meninas a como se portar para provocá-lo nos meninos.

É uma pena, não estou aqui para apoiar, mas a televisão é ateia. Fazer o quê? O deus dela são as cifras que aumentam junto com os pontos do IBOPE, custe o que custar doa em quem doer. E onde está doendo, e muito, é no caráter dos nossos jovens; a hipocrisia está se alastrando. Meninas com corpos de diaba e rostinhos angelicais estão dominando as casas noturnas das grandes cidades. Com uma bíblia em baixo do braço e várias camisinhas no bolso, elas saem para ensinar AS VÁRIAS POSIÇÕES [tomadas por Cristo durante sua estada na Terra] aos meninos. E a recíproca também é verdadeira, Jeremias que o diga.

Os dogmas tradicionais da Igreja são reacionários, totalmente antiquados. Os velhos princípios basilares da família já ruíram, assim como a própria família. Essas instituições milenares encontraram novos métodos de se manter e evoluir. Interpretar as novas tendências, estudá-las, compreendê-las e, por fim, julgá-las - com opinião própria - é a função dos seres pensantes nesse século XXI. Simplesmente verbalizar aquilo que foi ouvido não é o caminho certo à salvação, à iluminação, à sapiência ou a qualquer outro estágio ômega da existência.

Assim como eu não acredito na minha vizinha, você deveria duvidar das suas convicções. Príncipes encantados não existem, então aproveite o sapo que você tem. Relaxe e goze. Se não gozar, o sapo gozará e pulará fora. Pois, assim como ninguém mais é preso por desfloramento, o sexo deixou de ser feito somente para reprodução.

Estamos em uma nova era. Não se deve seguir alguma religião como uma lei a ser cumprida, mas sim como sugestões a serem consentidas - ou não.


O KBÇAPOETA







"A ARTE URBANA DE CUIABÁ, MÚSICA, POESIA E ÁCIDAS OPINIÕES."


¿Psicodelia Sarcástica¡





"Humor, Inteligência , Sandices e Pérolas da Mente Humana..."

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pimenta Na Jurisdição Dos Outros É Refresco



O Estados Unidos da América é um país que tem muito a ensinar ao ocidente contemporâneo - em se tratando de direito constitucional, pelo menos-, pois, desde sua independência, em 1783, a constituição permanece inalterada, inclusive – por incrível que pareça- as cláusulas que tratam do direito à liberdade. Ou seja, é mais ou menos como vovó já dizia: “todos são inocentes até que se prove o contrário”.

Mas alguém poderia instigar: como os norte-americanos podem tanto se gabar de sua liberdade, defendida com unhas e dentes em sua carta magna, se mantêm prisioneiros, que nem acusações têm, por mais de 3 anos confinados, sem direito a advogado, ou direito a responder o processo em liberdade, ou, sequer, o tão básico “direito a um telefonema”? Qual a mágica para um país manter-se soberano, conclamando-se o defensor dos direitos civis, e, por outro lado, fazer uso indiscriminado da tortura – física, psicológica e moral - e de tantas outras formas degradantes de exibir sua soberba imperialista? Bem, a resposta é simples - talvez não tão simples assim. O primeiro passo para essa façanha é ser um trapaceiro de mão cheia. O segundo é contar com boas quantias de dinheiro – conseguidas através do passo 1. E o terceiro - e mais importante - é adquirir, através dos passos 1 e 2, um grande poder de barganha com os demais Estados falidos. E pronto, é assim que o Tio Sam mantém sua conduta de defensor da liberdade e, em contrapartida, é o algoz mais pecaminoso dessa rocha flutuante em que moramos.

Após a “independência” de Cuba, em 1898, graças a “ajuda” indispensável e abnegada dos Estates , a ilha do açúcar ficou completamente sitiada pelas tropas americanas, as quais tinham a nobre missão de manter – a qualquer custo – a ilha livre – palavra usada em todas suas variantes por nosso primos ricos. Entretanto, para fazer esse favor, os norte-americanos precisavam de um território, para que pudessem cumprir sua intenção de manter a liberdade - olha ela de novo aí. O território, cedido por governantes entreguistas – cupixas dos americanos -, é Guantánamo. Lá, uma base naval foi implantada, e através da emenda Platt foi garantido aos estadunidenses o direito inconteste de intervir, sempre quando necessário, em Cuba.

Pois bem - resumindo a ópera - o resultado disso foi que Guantánamo, de base naval, se tornou principalmente uma prisão sem lei, onde para ser preso, basta estar livre e falar árabe, ou usar turbante, ou ter barba de árabe, ou ser muçulmano, ou ... Bom, motivos de sobra existem para se ser levado a Guantánamo; para sair de lá, entretanto, os motivos já rareiam um pouco. Muitos dos presos que foram para esse paraíso dos psicopatas com bandeira verde para torturar e realizar todas suas fantasias inescrupulosas não voltaram. E os que voltaram, nunca mais serão os mesmos. Como o caso de Haji Nusrat Khan, um afegão paraplégico de 80 anos, que foi levado de maca a Guantánamo, após o Departamento de Defesa americano acusá-lo de lutar no campo de batalha. Haji Nusrat Khan, apesar de ser paraplégico, tinha suas pernas acorrentadas, mesmo dentro da minúscula cela na qual era confinado. Além de Haji Nusrat Khan, muitos outros foram presos por acusações infundadas; e outros, ainda, sem nem ao menos acusações terem, simplesmente por serem “criminosos em potencial”.

O que exatamente se passa em Guantánamo ainda é obscuro à sociedade. Todavia, com as poucas informações vazadas, já se dá para ter uma noção da barbárie vivida por esses prisioneiros submetidos à tortura chinesa, afogamentos, vexames de toda arte e, acima de tudo, à degradação de terem suas convicções e ideais subjugados.

Mas o que os Estados Unidos têm haver com isso? Afinal esses acontecimentos não fazem parte da jurisdição deles, ora bolas...

A Economia Mundial


A economia mundial sofre influência da economia de cada um dos países que fazem parte da economia mundial. Sendo Assim, a economia mundial tem um papel importante na economia de cada um dos países que compõem a economia mundial.

A economia mundial, apesar de estar dividida em vários países que compõem a economia mundial, tem em alguns poucos países – os quais compõem a economia mundial – alicerces fundamentais para manter o perfeito funcionamento da economia mundial. Essa dependência que a economia mundial tem de poucos países faz com que a economia mundial seja sensível a problemas internos desses países – os quais são preponderantes na economia mundial. Dessa forma, a economia mundial, baseada na política “laissez-faire, laissez-passer” torna-se um modelo de economia mundial desequilibrado e não confiável. – principalmente aos grandes conglomerados financeiros que movem a economia mundial.

Essa contradição da economia mundial: capitalistas da economia mundial não confiando no modelo capitalista de economia mundial que criaram acaba por fazer a economia mundial brecar devido às contradições inerentes à economia mundial. No instante em que a economia mundial breca – devido à contradição dos capitalistas da economia mundial que passam a não confiar no modelo capitalista de economia mundial que criaram-, é muito complicado restabelecer-se a perfeita harmonia na economia mundial, pois a “mão invisível” que controla o mercado e, por conseguinte, a economia mundial está receosa pelo fato de muitos acionistas da economia mundial terem perdido verdadeiras fortunas do dia para a noite, por uma intempérie da economia mundial.

A economia mundial tem altos e baixos – prova disso foram as recessões enfrentadas pela economia mundial nos anos pós-guerra, anos esses em que a economia mundial vinha em ascendência contínua, graças a hegemonia incipiente conquistada na economia mundial pelos norte-americanos. O que essas crises da economia mundial trazem como constante é o fato de que sempre quando a economia mundial é calcada, majoritariamente, em poucos países da economia mundial, a economia mundial fica dependente do “bem-estar” desses países – nos quais é calcada a responsabilidade de guiar a economia mundial – o que faz a economia mundial ser, além de instável, uma grande arma para oprimir os demais países que compõem a economia mundial, pois qualquer política concorrencial desenvolvida pelos demais países que corroboram a economia mundial pode resultar o estopim de uma crise, haja vista que a economia mundial moderna está cada vez mais interligada.

Portanto, a economia mundial faz parte de uma economia mundial cada vez mais mundializada. E quanto mais mundializada for a economia mundial, menos o mundo vai ter uma economia mundial melhor para um mundo de economias mundiais espalhadas por todo o mundo.

A economia mundial é um pandemônio só compreendido por quem faz parte da economia mundial. Tentar desfazer esse emaranhado que é a economia mundial só faz eco à velha papagaiada que é a economia mundial.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ser Pop Ou Não Ser? Eis a Questão...



Detonautas, seguindo a tendência de Los Hermanos, surgiu como uma banda infantil, com um som tosco e manjado, e evoluiu, alcançando uma qualidade tanto musical quanto conteudística bastante interessante no álbum "Rock Marciano" – o segundo da banda -, e manteve o estilo em "Psicodelia, Amor, Sexo & Distorção". Nesses dois Cds, apesar de arranjos simples, o som é bastante agressivo, o que propicia uma profusão de impressões. A propósito das letras, as músicas apresentam certa profundidade e algumas metáforas elaboradas. Contudo, a temática predominante é a introspectiva, com dosagens psicodélicas e surreais bem colocadas, mostrando todo o amadurecimento da banda.

Entretanto, em seu último álbum: "O Retorno de Saturno". A banda volta a fazer uso do "manual do pop", deixando bastante a desejar; ainda mais pelas expectativas plantadas devido ao ínterim de levada underground. Nesse álbum, a banda abandona as guitarras distorcidas e o tom vociferante, deixando o som a cargo do violão, das letras simples e das músicas curtas sem profundidade, excetuando as três últimas que contam com uma nobre intenção de engajamento social, tendo ainda uma releitura de “AA UU” dos Titãs na última faixa do disco, mas sem abandonar, totalmente, o timbre pop.

Em "O Retorno de Saturno", a evolução do nível das músicas é gradual, da primeira à última faixa; as primeiras são fracas, devido ao velho romantismo exacerbado, preponderando a temática do amor pueril. Da metade do disco em diante, as músicas tomam corpo, e embora nem todas as letras apresentem profundidade, o som da banda se mostra mais maduro e com uma variedade sonora mais rica.

Sem dúvida, o destaque do álbum fica a cargo da faixa "Ensaio Sobre a Cegueira". Além de ser trabalhada em uma entonação carregada e melancólica, a música conta com a poesia "Os Filhos da Morte Burra" de Edu Planchãsz que completa a obra prima da carreira dos Detonautas.

Percebe-se claramente o dilema vivido pela banda em cada álbum: de um lado, o mundo das luzes e da fama, garantido através de músicas sem lastro e medíocres, feitas ao gosto do mercado; do outro, a realização pessoal e reconhecimento do público atilado; todavia, sem contratos garantidos com as grandes gravadoras.

Mesmo com todos esses percalços, Detonautas é uma banda que vale a pena conferir. Se Tico Santa Cruz abandonasse totalmente a levada capitalista, teríamos mais uma banda deixando sua marca no rol da boa música nacional.



ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA







01 O Amanhã
02 Nada Vai Mudar
03 O Dia Que Não Terminou
04 Mercador das Almas
05 Só Por Hoje
06 Com Você
07 Silêncio
08 Meu Bem
09 Tênis Roque
10 Tô Aprendendo a Viver Sem Você
11 Send U Back







01 No Escuro O Sangue Escorre
02 Não Reclame Mais
03 Sonhos Verdes
04 Assim Que Tem Que Ser
05 Quem Sou Eu?
06 Dia Comum
07 Prosseguir
08 Você Me Faz Tão Bem
09 Ela Não Sabe (Mas Nós Sabemos)
10 Apague A Luz
11 Insone
12 Tudo Que Eu Falei Dormindo
13 Um Pouco Só Do Seu Veneno







01 O Retorno de Saturno
02 Nada é Sempre Igual
03 Verdades do Mundo
04 Só Pelo Bem Querer
05 Lógica
06 Tanto Faz
07 Oração do Horizonte
08 Soldado de Chumbo
09 Ensaio Sobre a Cegueira
10 Enquanto Houver...
11 Eu Vou Vomitar em Você

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma Questão de Opinião



Qual é a abrangência do termo "terrorismo"? Talvez, simplificadamente, a expressão signifique impor a vontade por meio da violência e do terror. Sendo assim, o Tio Sam deveria voltar sua política do Big Stick não só para o oriente, mas também para sua sala de estar, a Europa. Mas parece que não é interessante combater nossos amigos das suásticas e vestuários exóticos - para não dizer ridículos. O que há décadas vem perpetuando-se no ocidente, sempre pouco difundido pela mídia - excetuando os casos hollywoodianos-, são os sentimentos xenófobo, racista, homofóbico e todos os outros que inspirem virilidade . E quando digo ocidente, quero dizer todo o ocidente. O Brasil também não está de fora; quem não se lembra dos gays espancados por "skinheads" em Curitiba?

Não se pode dizer que o combate a esses vândalos carecas seja uma questão de segurança nacional, afinal esses bebezarrões rebeldes precisam agrupar-se em três para dar conta de uma mulher grávida e indefesa. Não faço ideia de quantos seriam necessários para executar a mesma façanha com uma nação... O fato é que talvez, apesar de sujar a imagem de um Estado soberano, manter alguns desses gentlemens como anfitriões seja o melhor aviso da direita europeia aos latino-americanos, africanos, europeus orientais e a toda a corja desses quase indigentes que insistem em parasitear as riquezas dos países desenvolvidos. Além do quê, desde quando a morte de um brasileiro é capaz de minar a reputação de um país? Se assim fosse, o Brasil seria o primeiro país a ser assolado pela má fama, haja vista que aqui nossos anfitriões - os traficantes - não brincam de escrever mensagens infantis; eles matam mesmo. E muitos brasileiros morrem nas mãos desses agiotas do governo.

O termo skinhead pode abarcar muitas personalidades; qualquer um com a "cabeça-pelada"- ou seja lá como for que eles preferem ser chamados - pode ser engajado nessa contracultura. Já se foi a moda punk, a hipiie, a grunge, a underground. Agora o barato do momento é a moda skinhead. A vantagem dessa moda, em relação as outras, é que nessa, não se precisa saber ler; não há uma filosofia específica; você não precisa saber nada! Talvez apenas que se é um skinhead; mas se não saber, é só sair no soco que tudo está resolvido. Eis o melhor cartão de visita de um skinhead: a porrada.

Os skinheads mais cultos se autodenominam- com o auxílio da mídia - de neonazistas. Momento cultura: nem todo skinhead é um neonazista; existem muitos skinheads negros, judeus e, até -quem sabe - gays - porque ficar no meio de tantos homens soa suspeito. Os skinheads fazem parte de um movimento igual a qualquer outro - mais idiota, é verdade. Um exemplo familiar de skinhead são os Hooligans, tão falados em Copas passadas. Provavelmente, esses rapazes, os quais seriam algo muito semelhante aos nossos tão típicos pit boys arruaceiros, amantes do Jiu-Jitsu, nunca leram Mein Kampf - mas diferente dos nossos pit boys, eles com certeza sabem ler - a educação europeia é invejável- se não leem é porque tem socos mais importantes para dar.

Realmente, o acontecimento trágico que fez a brasileira Paula Oliveira, residente de Zurique, e que estava grávida de três meses de gêmeos, sofrer um aborto forçado foi um fato lastimável e imperdoável. Contudo, as autoridades não podem esperar que todos vejam esse fato com surpresa. Qual a dúvida quanto ao que sucede quando três homens carecas, e em que em pelo menos um deles vê-se nitidamente uma suástica tatuada na cabeça, andam de preto, à noite, em uma estação de trem germânica, local onde podem entrecruzar-se pessoas de várias etnias e nacionalidades? A verdade é que a Europa enfrenta problemas graves de identidade, que não são de agora, talvez dado ao fato de sua formação conturbada.

É complicado para um europeu admitir que entre seus conterrâneos existam aqueles que conclamam o nazismo e extravagâncias afins, marcas culturais que crucificam os nossos ex-bárbaros. Mas isso faz parte da cultura; não se deve renegar, mas sim trabalhar para alterar, não simplesmente abafar, como há muito é feito, talvez, principalmente, por pressão da opinião pública mundial que condena indistintamente os acontecimentos passados. Manter o nazismo e outras orientações políticas marginalizadas, faz com que elas sirvam de alimento contra o tédio de play-boys bombados sem nada para fazer, mas que mesmo assim apresentam mais lastro intelectual do que os nossos play-boys bombados. Enquanto lá, forjadamente - ou não, vai saber- os valentões lutam contra a dominação estrangeira dos postos de trabalho e a insegurança representada por imigrantes famintos, os nossos brigam por loiras peitudas e por atenção do público em geral. Lá, o problema é - teoricamente- político; aqui, é crítico: o problema é intelectual! Lá uma reforma política, provavelmente, resolveria. E aqui, o que há a se fazer?

O brasileiro é muito sentimental quando o assunto é pop. Uma bala perdida no Rio é notícia de populacho sensacionalista; em Londres, é manchete renomada de impacto. Não diminuo a dor de nenhum, nem de outro; apenas saliento que a morte é morte em qualquer lugar. O que acontece lá, acontece aqui. E se a atenção dada ao que acontece lá fosse dada ao que acontece aqui, possivelmente, lá, não aconteceria nada. Ou os norte-americanos são alvos de skinheads ou da Scotland Yard?

O brasileiro precisa conquistar o respeito internacional. O que lá eles têm em demasia, e os faz agir como donos incontestes da razão, aqui carecemos. Lá, eles repudiam - em excesso, é verdade- aqueles que tentam se apoderar de suas míseras porções de terra e oportunidades de emprego; aqui, abanamos o rabo como fieis escudeiros do imperialismo, e damos de presente de boas vindas a Amazônia e nossas imensidões naturais. Os rapazotes de lá, apesar de não saberem nada da bandeira que ostentam, muito menos o porquê de ostentá-la, têm muito a ensinar aos rapazotes daqui.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ed. e Seu Castelo...



Uma história de superação e garra. Filho de um carteiro de Juiz de Fora e de uma professora primária, Edmar Moreira, nosso compatriota, dá-nos o exemplo de como é possível, sim, sair da pobreza e alcançar um lugar ao sol; entretanto, o que falta ao exemplo, é explicar como.

De ex-capitão da polícia militar a corregedor-geral da Câmara, nosso deputado deu asas à imaginação e pôs em prática o sonho infantil, comum a muitas crianças, de um dia morar em um castelo.

Nosso simpático vitorioso usa o patrimônio exótico, avaliado em mais de 20 milhões de reais, como casa de campo, para relaxar aos finais de semana.

E relaxar não é difícil, pois a construção tem 32 suítes; uma cozinha industrial capaz de atender 200 pessoas; dois elevadores; sistema de aquecimento central; uma capela; um anexo de lazer, com sauna, salão de jogos e de ginástica; e como, é claro, não poderia faltar na moradia de um bom vivant, uma adega climatizada com capacidade para 8.000 garrafas.

Esses casos todos servem para elucidar o quão injusto é o povo; o que é uma lixeira de 2.000 reais se comparada a toda a exorbitância desse mais novo empreendimento brasileiro, de causar inveja aos europeus? Não podemos ser injustos! Temos que nos contentar com nossos pequenos ladrõezinhos – melhor dizendo – infratores, pois, agora, vai dizer, uma lixeira de 4,81 salários mínimos não é de se causar tanto espanto assim – sejamos sinceros. Temos que tratar bem nossos pequenos transgressores, ou se não - ai ai ai ai - o Ed. mau vai gastar todo o dinheiro do INSS!

Agora, quando a pessoa tem vocação para os negócios, não tem jeito, tudo parece se acertar como “mágica”. A casinha dos sonhos do nosso príncipe encantado está à venda, e qual é o melhor corretor de imóveis do que a imprensa? Está tudo ao alcance de qualquer um: as fotos da propriedade; área; número de suítes, de quartos, de banheiros ou qualquer outra possível dúvida dos interessados. Não se precisa sair de casa para procurar; a casa do Ed. é que está à procura de alguém para quem se vender. Provavelmente um outro velho decrépito com o orifício entre as nádegas saturado de euros, procurando paz e tranqüilidade depois de uma vida exaustiva. Afinal, o que ele tem haver com essa história?


Toaletes e Guilhotinas

Quando algo não tem nome, se apresenta apenas como uma sensação de mal-estar indefinível. Naomi Wolf, em seu livro 'O mito da beleza', mencionava que certas coisas na sociedade passam despercebidas pois não há quem as denuncie. E a denúncia é sempre uma espécie de grito em meio ao silêncio de uma humanidade acostumada.Um escritor brasileiro, pouco conhecido, tem feito este papel de maneira brilhante, com um bom toque de humor ácido, que o cotidiano merece.

Ezio Flavio Bazzo é um escritor diferente, pois seus livros são encontrados na Internet, feitos de maneira quase artesanal e publicados de forma independente. Não há como traçar um estilo para suas obras, e deve ser esta a razão de não se tocar em seu nome nos centros literários. Cada livro é único, composto de mil estórias e confissões de viagens, mostrando de forma brilhante o ser humano da maneira como ele é. Uma biblioteca dentro de cada livro. Um acervo de milhares de notas de rodapé geniais.

Apesar de parecer triste à primeira leitura, ao se conhecer a obra do escritor, tem-se a idéia de uma forma bela de descrever a vida, reconhecendo a miséria humana e aceitando-a como parte do aprendizado, para quem tem a percepção da realidade.

Os livros são como uma espécie de literatura livre, onde não há compromisso com regras gramaticais, formalidades ou mesmo com o leitor. Há apenas a vontade de escrever. Portanto, aquele que leu apenas um livro de Ezio Flavio Bazzo não sabe o que são seus livros. E muita gente não continua a ler, pois vê a si próprio neles.

Desde 'Ecce Bestia', que trata do assunto muito bem camuflado pela sociedade que é a exploração de animais para o sexo, mais comum do que se imagina, ou se quer imaginar. Ou 'A lógica dos devassos', que provoca a discussão sobre a pedofilia, um problema cercado de preconceitos entre os próprios pesquisadores do assunto. Ou 'Manifesto aberto à estupidez humana', espelho fiel da humanidade e do homem, um dos melhores livros que já li na minha vida.

A relação que temos com os escritores sempre é envolta em mistério, pois não conhecemos o autor das palavras que lemos. Muitos escritores estão mortos ou simplesmente moram do outro lado do planeta e nem sempre apreciam dialogar com os leitores. O máximo que acontece é o lamentável show de autógrafos. Mas este escritor é vivo. Tem um endereço de e-mail, responde aos leitores. Envia textos inéditos, manda presentes (livros!), está mais próximo do leitor e nos mostra, através deste comportamento, uma forma de ser muito bonita e diferente do aparente pessimismo que muitos vêem em seus livros.

Pois o livro 'Toaletes e Guilhotinas' fala de dois assuntos aparentemente divergentes, mas que têm muito em comum: a merda e a guilhotina. Além de um humor muito interessante, sobre a forma como lidamos com os excrementos, há a denúncia de que a humanidade possui em algum lugar de seus genes ou de sua psique um espírito sanguinário, que se empenha em construir mecanismos cada vez mais sofisticados para provocar o sofrimento alheio.

Sobre os animais, Bazzo escreve: "é desse fígado adulterado e canceroso que o patê (Foie Gras - em português: fígado gordo) da burguesia é feito. Oxalá lhe provoque pelo menos uma cirrose incurável ou uma Hepatite para vingar o martírio dos gansos. Quem visita uma dessas granjas fica impressionado com o desespero dos animais, que passam praticamente a vida toda sem sentir o gosto da comida. _ E os ecologistas? Perguntei-lhe. _ Não fazem nada. Pois o Foie Gras é para a França quase uma questão de Estado! O mesmo que o petróleo para os árabes e que o ópio para os birmaneses. A mim, esta pasta nojenta só revolta as tripas!".

Sobre as execuções na guilhotina e a comparação com a morte de porcos, ele diz: "quem nasceu e cresceu no campo nem precisa ter boa memória para lembrar das execuções matinais, semanais e rigorosamente macabras. Os gritos de desespero do animal, um panelão com água fervente, o verdugo afiando a faca e três ou quatro vizinhos tomando chimarrão, fumando charuto ou simplesmente assistindo a execução. Fazendo um retrospecto desses tempos e desses porcocídios me dou conta de que o matador nunca é uma pessoa comum e que existem sujeitos que 'sabem mais' do que os outros no métier da morte. Lembro-me perfeitamente bem das mãos grotescas do homem que enfiava a lâmina na direção do coração dos porcos, e que eu estava sempre do lado dos suínos, torcendo para que eles, num último ataque de desespero, conseguissem devorar a mão ou pelo menos o joelho dos matadores.

Depois, assistia a carnificina e a retirada do coração mutilado, que o carniceiro exibia orgulhoso à 'platéia', exatamente como os verdugos faziam aqui, com a cabeça dos guilhotinados. Portanto, e por mais lírico que possa parecer, estou profundamente convicto de que uma civilização e uma sociedade que é contra a pena de morte para os homens, mas que segue matando todas as outras espécies para se alimentar, para vender seus chifres, seus dentes, sua pele, sua banha, seus hormônios etc, é uma civilização e uma sociedade, narcisista, chauvinista e hipócrita que, cedo ou tarde (mais cedo do que tarde), destroçará e comerá a si própria".

E sobre a curiosa imagem de um livro de Jerry Rubin, que traz entre outras fotos a de uma mulher nua carregando uma cabeça de porco numa baixela: "vou me dando conta de como é impressionante o estágio de indiferença em que nos encontramos. Como é possível viver no meio de uma chacina e de um genocídio animal desses sem desesperar-se? Frangos, porcos, vacas, peixes, patos, rãs, camarões, coelhos, faisões, ovelhas, nenhuma espécie escapa à fome sanguinária dos homens, desses barrigudos inúteis que saem dos restaurantes de Montmartre palitando os dentes e arrotando".

O comentário sobre uma gravura onde aparece um homem matando outro homem com um machado, e um homem com um cavalo observando a cena: "gosto dessa imagem, porque nela o ponto crucial de crueldade não está na lâmina do machado, nem nos lábios do homem que pratica a violência, mas curiosamente no olho do cavalo, dirigido de maneira ambivalente e fulminante para o sujeito que está prestes a ser assassinado. Esse eqüino estaria indignado ou apenas gozando com o massacre* e com a ruína de seu dono? O que impressiona realmente, é a rapidez com que se passou do machado à guilhotina e desta à cadeira elétrica, fato que evidencia o quanto o espírito assassino está incrustado nos séculos, nos punhos e no palavreado da espécie mais predadora que o planeta já teve notícias.

* Etimologicamente a palavra massacre vem do latim, macecre, um termo que está sempre ligado aos açougues e às carnifininas".

Por Ellen Augusta Valer de Freitas

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Sobre a autora

Ellen Augusta Valer de Freitas é licenciada em Biologia, com formação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, São Leopoldo, RS. Foi bolsista de Iniciação Científica pelo CNPq no Instituto Anchietano de Pesquisas da Unisinos. Tem experiência na área de Ecologia com ênfase em Zooarqueologia, atuando principalmente em captação de recursos aquáticos, gerenciamento de recursos hídricos, estudo da alimentação de povos indígenas, educação e pesquisa em arqueofauna em sítios arqueológicos do Projeto Corumbá, no Pantanal. Trabalha com educação de jovens e adultos, realiza pesquisa de mercado e consumo para uma ONG nacional, publica artigos regularmente, elabora projetos, palestras sobre nutrição, ética e animais, e aulas de botânica e paisagismo. Tem 30 anos, é vegana e ativista pelos direitos animais, com participação em diversos grupos no RS

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Epopeia de Um Errante

Nasci nesse mundo, eu e mais cinco irmãos. Durante meus primeiros meses de vida conheci aquilo que aqui chamam de amor. Um amor incondicional, amor materno, amor que dá a carne pela vida do outro. Aprendi a ser assim desde pequeno: sempre preferir morrer a matar, sofrer a machucar ou deixar que machuquem meus entes queridos.

Quando fiquei mais velho, descobri que a vida tinha mais a oferecer do que eu conhecia no ninho materno: um nicho de carinho e segurança. Inicialmente, fiquei inseguro quanto a qual caminho tomaria na vida, pois sempre quis estar ao lado de quem amo: minha mãe e meus irmãos.

Meu pai não conheci, diz minha mãe, era alguém aventureiro que vagava pelo mundo, lépido e sempre disposto a fazer novas amizades, mas , no fundo, escondia mágoas de alguém solitário em busca de um carinho especial e amor verdadeiro. Por ser assim tão carrancudo, fez de minha mãe apenas mais uma, mas não era de todo mau coração.

Dias atrás, já sonhava eu em seguir os passos do meu pai. Quem sabe um dia encontrá-lo pelas esquinas da vida e trocarmos ensinamentos. Minha mãe advertiu-me que o mundo fora dali não era tão belo como muitos pintavam, tampouco harmonioso, sincero e solidário. Então, eu com meus botões, fiquei a matutar de onde vinham aqueles ensinamentos tão brandos e profundos que minha mãe discursava aos ouvidos meus e de meus irmãos, se não existia mundo tão belo assim?

Um belo dia, não tão belo assim, minha mãe, com lágrimas nos olhos, disse que teria que nos deixar. Sem entender, meus irmãos e eu, colocamo-nos a instigá-la sobre essa atitude; cabisbaixa e com voz trêmula ela balbuciou:

-Meus filhos lindos, não quero que pensem mal de mim, mas as regras do jogo não sou eu quem dou. Este mundo é perverso e repleto de pessoas que são preconceituosas ao nosso respeito...Um de meus irmãos, o mais tímido, apelidado por nós, carinhosamente, de “Patinho Feio”, retrucou:

-Mamãe, é por causa de nossa cor? Antes mesmo que ela pudesse responder, ele almejou-a com uma nova pergunta:

-Porque vivemos na rua?

Meu irmãozinho não conteve as lágrimas e pôs-se a chorar em coro com minha mãe.

A esta altura da história, minha garganta começou a secar; senti como se o fogo consumisse minha laringe; não me contendo, também entreguei-me ao pranto.

Minha mãe, vendo aquela cena horrenda, revelava em seu semblante o horror da calamidade que ali se abatia.

-Meus filhos, sei que são jovens para entender, mas um dia, quem sabe, me perdoem por isso. Juntos somos frágeis, vulneráveis aos terrores que assolam esse mundo. Desprotejo vocês para sua própria proteção.

Eu, que era o mais velho - dada a circunstância da ordem de nascimento - tomei frente àquela situação, e o que minha pouca idade não revelava, nem a mim mesmo, naquele momento espalhou-se ao vento como brisa de verão:

-Mamãe precisa partir, e nós sabemos o quanto ela fez por nós, se no momento não entendemos sua atitude, no futuro a entenderemos. Não vamos fazer desse momento pior.

Minha mãe olhou-me com aquele peculiar olhar de mãe coruja, orgulhosa de ver as vitórias de seu pequeno filho prodígio. Mas o instante, apesar de eterno, acabou-se logo; daquele jardim suntuoso que florescia entre nós, fomos remetidos à tragédia consumada: a despedida.

Carinhos e afagos demorados não faltaram; todos queriam uma vez mais, sentir o doce e familiar cheiro de mãe, como se quiséssemos guardar conosco para eternidade o que de mais valioso foi-nos dado: nossa mãe. O amor verdadeiro.

Ao longe, os passos lentos dela foram se perdendo. Quando as retinas atentas e pescoços esticados já não podiam delinear a silhueta daquela por quem nossas lágrimas escorriam, a tristeza tomou conta de nossos corações; fomos tomados por uma sensação inexplicável de incredulidade.

Daquele momento em diante senti como se já não mais fosse completo, como se uma parte vital de mim tivesse sido jogada a esmo, a vagar pelo mundo.

O tempo passou; os sentimentos não. Contudo, eu e meus irmãos, com a idéia amadurecida de continuar a vida, decidimos também separarmo-nos e seguirmos a vida, como aconselhou nossa mãe.

Tanto eu como eles sabíamos exatamente o que procurávamos: queríamos reencontrar a parte que nos faltava. E assim fomos, cada um no sentido de um vento, para, quem sabe, um dia, com vidas restituídas, pudéssemos juntos comemorar vitórias.

Infelizmente esses sonhos de desbravadores inexperientes não se concretizaram; aos poucos entendi o que minha mãe quis dizer com mundo cruel.

Nas ruas de uma grande cidade, pus-me a caminhar em busca de alguém para proteger, e que, em troca, desse-me amor. Infinidades de rostos encontrei, todos com feições sofridas, homens e mulheres não amados, tão secos que pareciam serem feitos de pedra. Tentei deles aproximar-me para amá-los, e, quem sabe, curar as feridas que a vida os fez. Mas foi em vão, a falta de amor dessas “pessoas” parece tê-las feito mal, em lugar do amor, cobriram o espaço vazio com ódio.

Sou persistente, minha raça me fez assim: forte, lutador, destemido. Entretanto, o ódio desse mundo é infindo, parece brotar do concreto. A solidão é dividida em grandes muralhas muradas, cercadas, que protegem uns dos outros. Olhando daqui de baixo, vejo irmãos, ou meio irmãos, sejam o que for, são muito parecidos entre si, mas quando se cruzam, fingem não se ver. Não me admira nada que a mim sobre apenas o descaso. Se não amam a si próprios - seres que se dizem superiores aos outros por serem de “raça pura”, seres intelectualizados, sábios, responsáveis por tudo que há de melhor no mundo - o que restará a mim e aos meus irmãos, seres da raça inferior? Sou desconhecedor de teorias nazi-fascistas e sistemas escravocratas , mas sei muito bem, que em épocas remotas - nem tão remotas assim - uns eram considerados lixo e outros ouro, e que ainda hoje existe resquícios dessas linhas de pensamento . Com certeza eu não sei exatamente o que aconteceu, mas ainda sinto no meu couro as conseqüências dessa segregação. Não guardo ressentimento, queria apenas que tudo voltasse a ser como era em um lugar que, se não me engano, é chamado Éden; lá, todos viviam em paz e amor, exatamente como no ninho da minha mãe. Lá não existia raça, todos eram iguais.

Mas o tempo é inabalável e continua a passar. A tecnologia de que tanto falam, fez-me saber que eternizou a mais alguém: meu irmão do meio faleceu em mais um trágico acidente de carro. Um senhor de meia idade, aparentando seus 20 anos, corria muito, acredito eu que devia ser uma emergência, pois ao ver meu irmãozinho, distraidamente atravessando a rua, não pode parar, nem ao menos para prestar socorro ao coitadinho que, segundo testemunhas, sofreu muito até ser socorrido pelos longos braços da morte.

Não pensem vocês que não sofri. Sofri e sofro muito, mas eu entendo o mecanismo da vida. Uns morrem para outros sobreviverem. É assim. Fazer o quê? O que eu e minha raça podemos fazer?

A tragédia, não sei eu onde termina nesse mundo, sei, apenas, onde terminou para mim. Em um belo dia, belo mesmo, estava eu com fome, frio, dor e exausto quando vi ao longe duas pessoas que pareciam ter sorrisos nos rostos. Corri em direção a elas. Deparei-me com dois jovens que realmente sorriam muito. Na hora fiquei extremamente comovido com o achado: pessoas com amor no coração, pensei eu.

Fiz o que havia ensaiado a vida toda, um ritual complexo de demonstração de carinho e agrado. Funcionou, levaram-me para um lugar mais calmo, onde eu acreditava que me dariam de comer, pois estava faminto; mas também, se não dessem, o mais importante eu havia encontrado: a amizade.

No início achei que estavam se divertindo mais do que eu, pois riam entre si. Achei melhor não importunar, de repente poderiam estar achando-me engraçado.

Mais tarde um pouco, enquanto eles preparavam alguma coisa - que eu acreditava ser algo de comer - comecei a sentir que algo não estava totalmente certo. Quando aprontaram o que faziam, começaram a se aproximar, senti em seus olhos um olhar diferente daquele de outrora, parecia intricado, até, quem sabe, sádico... A brincadeira perdeu a graça para mim, quando senti em meu corpo o fogo lacerar minha alma, corroer minha vida aos poucos. O cheiro da gasolina queimando sobre meus pelos, fritando minha carne sufocava minha respiração. Enquanto as labaredas arrancavam minha pele, contraíam meus músculos que tremiam frenética e involuntariamente, fui perdendo a noção de tempo e de espaço. Não posso dizer se meus latidos eram tão altos de dor, medo ou tristeza. Não foi pouco tempo, mas também não durou uma eternidade. A dor aos poucos deu espaço ao cansaço, fui deitando-me aos pés daqueles que foram meus carrascos. Não sentia raiva deles, afinal eram seres inferiores, incapazes de saber o que se passa dentro de um coração de verdade. Todavia, ficava em meu peito a incompreensão: o que leva alguém a agir assim? O que esse planeta tem de tão atrasado que faz de seus habitantes instrumentos de destruição e tortura? Que culpa meus irmãos e eu tínhamos de existir vagando nas ruas corações traídos, maltratados e humilhados? Será que fomos nós os responsáveis por essa vida injusta que habita esses corações negros? Será que não foram vocês mesmos que plantaram essa semente de dor e insegurança em seus corações? Será que à noite, quando sua filha linda, perfumada e bem arrumada sai para se divertir, aquele pensamento renitente que soa como mal agouro o tempo todo ao seu ouvido, não é o reflexo daquilo que você cultiva durante o dia? Não será medo de que o universo cobre pelo descaso dado por você ao que está à sua volta?

Eu não estou mais aí, não pude realizar o sonho da minha mãe: conquistar o mundo. Mas agora eu sei o que ela quis dizer. Eu entendi ao que ela se referia quando dizia “mundo mau”. Esse é um ambiente dominado pelos animais: seres irracionais que vivem vidas mortas, os quais têm medo uns dos outros, temem a morte, pois sabem que matar está em seu sangue, sangrar está em seu destino. Meus irmãos e eu não tínhamos medo porque não conhecíamos as trevas. Agora eu sei, acredito que meus irmãos também, a grande maioria deles pelo menos. Sei que apesar de uma vida curta, vivi e morri sem mágoas, sem arrependimentos. Não pude fazer bem a ninguém, pois não deixaram; mas também não fiz mal. Àqueles que me fizeram sangrar, deixo meu perdão e estimas de evolução; todos merecem uma segunda chance. Àqueles que na rua seguiram sem a mim notar, desejo-lhes sorte, vão precisar; esse mundo é trágico. Se não conheceram minha história, a conhecerão em outros corpos, senão de um Canis familiaris, a presenciarão em corpos de, quem sabe, entes próximos, muito próximos. O mundo é comum a todos, suas atribuições também. O que acontece a um, pode acontecer a todos. Não desejo tristeza a ninguém, mas me ensinaram que não se deve jamais interferir em um ciclo biológico. O homem está na teia alimentar do homem. No genoma humano está inscrito a morte, tristeza e muita dor.

Eu estou livre das algemas desse mundo, mas meus irmãos não. Ainda têm muitos deles soltos, abandonados; pobres guesas, andarilhos em busca de amor e carinho. Se tiverem racionalidade ainda, por favor cuidem dos meus irmãos. Somos fracos. Nossas patas não foram feitas para matar. Não sabemos nos defender. Não acreditamos em defesa, pois não conhecemos o ataque. Vivemos nossas vidas com um único objetivo: o de poder um dia tornar mais viva a vida de alguém que ama viver tanto quanto nós.

O Fim da Noite

A noite abraça-me fria na calada da alta madrugada. Estou só, a lua é minha confidente. O infinito parece a cada instante mais próximo das minhas mãos. Meus sonhos, meus temores e incertezas afogam minha alma; sufocam meus gritos.
Esse duelo noturno acompanha-me até o amanhecer; não tenho sono, não tenho insônia. Estou sóbrio, embriagado de tédio e angústias indefinidas. Quando o sol pedir licença, retirar-me-ei deste palco; esperarei novamente meu ato.
A vida é uma tristeza quase absoluta; rotinas cíclicas, infinitas. Trabalhos intermináveis.
Todas as manhãs, milhões de seres, em marcha fúnebre, dirigem-se às paradas dessas grandes cidades. Aglomeram-se, atrolham-se em pequenos espaços. Sono nos rostos, tristeza nos pensamentos. Qual o objetivo disso? Onde isso levará? Que fim encontraremos para além dessa vida? Semanas inteiras passadas em branco à espera do fim de semana. Não é o tempo que estamos matando, é a nossa vida que está morrendo.
Não vislumbramos os jardins, tampouco nossos parentes. Pensamentos a mil, vidas a dez. Estamos destinados a envelhecer,e, a beira da morte, compreender que tudo aquilo que passamos, passamos em vão. Será tarde, o tempo é imutável, o fim não. Viver o agora, é mais do que viver o presente, é garantir vida no futuro.
E mais uma vez o sol expulsa-me. Voltarei ao meu ciclo noturno e esquecerei dos sentimentos sentidos quando não estava em posse de minha razão.

Onde Acaba O Que Começa

Existe um mundo dentro de mim. Existem pensamentos ao meu redor. Existe um enorme buraco sobre minha cabeça. Existe uma solidão em que o silêncio sufoca meus tímpanos e cega minhas narinas. Existe um barulho insuportável vindo de dentro do meu peito; é a angústia que explode para fora dos meus poros; é o medo que apavora minha coragem.
Sinto-me cada vez mais feliz por estar tão distante da realidade e cada vez mais próximo da tristeza, dos prantos da madrugada.
Tenho medo quando a noite chega, pois com ela a solidão. Tenho medo quando ando só abaixo da lua. Adoro a euforia da morte; suplico o cheiro das flores sobre meu corpo.
Não existe mais um conjunto, existe uma única parte do quebra-cabeça. Quero voar para apagar o fogo do meu coração. A liberdade me espera por de trás das grades que me aprisionam.
Posso correr, posso flutuar no mar; agora estou só, não existe mais o impossível. Meus olhos só vêem o que minha mente traça. Meu caminho é longo, meus passos também. A morte não existe, é a vida que acaba.
Meus olhos sangram, meu sangue fervilha, minha vida é eterna, minha morte me acompanha.
Quero a insanidade sempre ao meu lado; minha melhor amiga, a única que me entende. Quero música urgente nos meus ouvidos. O som me maltrata, não quero sofrer. Sou sarcástico,
masoquista. Sua face me causa ira; ótimo! Adoro pecar. Quero ver-te em flores mortas.
Não penso, não reflito, sou apenas um instrumento da sociedade, aprendi a repetir estrofes, refrões de músicas e poesias que de beleza somente o poder de manterem olhos e ouvidos atentos à espera de uma palavra de sabedoria.
Sou triste, sou alegre, sou sábio, sou tudo, sou nada. Neste momento, em que me encontro comigo mesmo, não encontro nada. Nesta hora, em que só existe o não existir, minhas mágoas não têm fim, e meu fim não sei quando começou. Quero viver aqui dentro, dentro de mim. Colocar flores amarelas nos vasos e perfume nas paredes. A cortina negra que cobre minha alma quando eu não estou é espessa, não quero tirá-la; ela impede que a luz de fora ofusque meus olhos ao ver quem realmente sou.
Meus pensamentos ludibriam minha paciência. Sinto-me melhor em agora saber que sou feliz; minha infelicidade compõem meu talento de ser alegre. Minha melancolia conforta meu ego. Preciso de mim, preciso de todos, mas principalmente não preciso de ninguém para ser quem eu sou.

O Retrato Avesso de Um Ser

Em momentos assim que sinto meu corpo flamejar, minha mente entorpecer-se de ódio; um rancor inexplicável que faz um sangue espumante ser expelido em forma dos mais variados impropérios ao mundo.
Quero matar, não posso controlar. Meus punhos suplicam sangue; minha consciência quer sentir-se culpada por algum crime hediondo cometido em momentos de descontrole psicológico.
Sou pesado, não consigo respirar. As paredes sufocam meus sentimentos. O som que estridente brota dos alto-falantes apontados para meus ouvidos ensurdece-me; esconde meus instintos; camufla meus gritos.
O satanismo inexistente existe; cultuo o morto e o assassino. Sou o carrasco do meu próprio ser; executo e sou executado.
A navalha penetra na carne e derrama o sangue que é o combustível de um corpo sedento; de um ser noturno que vaga soturno pelos locais mais insalubres da noite.
Aqueles pensamentos lúgubres envolvem meu ser. A essência mórbida do ar que desliza do cemitério até minha face percorre um longo caminho até chegar ao fundo do meu coração e ali plantar a semente do eterno.
Aos poucos aqueles sentimentos vão esvaindo-se, tão lentos e graduais como surgiram. Tão sensíveis como o impacto que causaram.
Daqueles momentos de devaneios insanos, o que resta são as lembranças vertiginosas de uma viajem ao desconhecido, o conhecimento do interior negro que habita meu âmago.
Sou a jaula de um demônio incontrolável; o béquer de uma substância instável e destrutiva. Meu corpo é a prisão do criminoso mais pecaminoso que a humanidade conheceria; o tirano mais inescrupuloso, cuja ira submeteria a nação à desumanidade completa.
A humanidade é assim composta de elementos visivelmente idôneos, mas que na verdade não passam de mais um complemento da real natureza primata e selvagem dos homens: únicos seres pertencentes ao meio terráqueo que premeditam os mais capciosos crimes, seja contra a pureza da natureza, seja contra a podridão de si próprios.
Um retrato de um ser ao avesso, que acima de tudo é humano: a pior de todas as aberrações que vaga pelos espólios desse universo.

Onde Foi Que Marx Errou?


Mais um ano em que o sistema de cotas está em vigor na UFRGS, e mais um ano em que seu “objetivo” não é cumprido. Negros continuam relegados a um segundo -ou terceiro- plano, e nossos verdadeiros necessitados sequer sabem o endereço de nossa universidade...

O sistema de cotas é falho, pois beneficia não àqueles para os quais as cotas deveriam ser direcionadas: vestibulandos de baixa renda que nunca tiveram oportunidade de se dedicar integralmente aos estudos, devido à necessidade de conciliar a carreira profissional com as aulas, e assim poderem cooperar com as despesas domésticas de uma família que, em muitas vezes, têm um número expressivo de integrantes dependentes única e exclusivamente da renda deste futuro vestibulando.

Então, supondo que por alguma razão, este estudante que não teve oportunidades de estudar, pois deveria trabalhar durante a maior parte do dia, venha a passar no vestibular beneficiado pelo sistema de cotas, como ele, agora, conseguirá administrar seu tempo para que possa realizar as cadeiras da universidade federal gaúcha, sendo que nela os horários não são fixos e se misturam em períodos de manhã, tarde e noite? Se este estudante puder abandonar seu emprego para cursar a universidade - em que a maior parte dos alunos não trabalha - ele não precisaria ter ingressado apoiado ao sistema de cotas, pois poderia investir seu tempo que, agora (aprovado) dispõe, para se preparar e atingir a pontuação necessária.

É exatamente isso o que o sistema de cotas faz: mantém a exclusão. Pois aquele estudante que verdadeiramente dependeria das cotas, ou não é atraído para a universidade por não poder manter o sustento de sua família, ou é desclassificado durante o processo, que como sabemos, é de alto nível de dificuldade, e que, dependendo do curso escolhido, só é possível a aprovação - mesmo apoiado às cotas- mediante a um excelente programa de estudos, e, segundo às opiniões favoráveis às cotas, alunos egressos de escolas públicas não dispuseram desta ferramenta. Não bastando isso, o estudante que realmente dependeria das cotas, caso não seja desclassificado pelo ponto de corte, no momento de competir com seus adversários, também "cotistas", perde sua vaga para aqueles que desfrutam indevidamente da oportunidade das cotas.

Alunos que desfrutam indevidamente das cotas são aqueles vestibulandos, em sua maioria de classe média, que estudaram em escolas públicas por estas estarem mais próximas de suas residências - não havendo necessidade do uso de conduções-, por exemplo. Ou que na família já exista um irmão mais velho cursando alguma instituição de ensino privada, e este estando mais próximo do vestibular, faz com que sua família, por não ter condições de pagar para ambos, e afim de assegurar a possibilidade da aprovação em uma universidade gratuita, abdique do ensino do mais novo, o qual, entre outros motivos, pode ter adquirido vínculos de amizade na escola, o que o faz optar por cursar toda sua carreira escolar em uma instituição pública. Além desse exemplo, existem muitos outros que podem levar alguém com condições de pagar uma escola particular, optar por matricular seu filho em uma escola pública, e assim poder, com o dinheiro economizado durante os anos letivos, investir em cursinhos pré-vestibulares que, como se sabe, é o que faz a diferença na hora de garantir uma vaga na universidade. Por outro lado, famílias sem necessariamente condições de pagar uma escola privada optam por fazê-lo na esperança de garantir a aprovação em uma universidade pública, pois se comparado o custo do ensino médio com o do superior é sabido a diferença exorbitante. Como conseqüência, os cotistas estarão tão preparados quanto os não-cotistas – e em alguns casos, até mais-, como exemplo, o que ocorreu no concurso vestibular UFRGS/2008 e UFRGS/2009, em que alunos, oriundos de escolas públicas, prestaram vestibular para medicina e obtiveram uma pontuação mais alta do que muitos dos primeiros colocados pelo acesso universal.

O eufemismo das cotas para auto declarados afro descendentes remonta – ao meu ver- escamoteadamente uma época da história em que judeus e alemães tinham momentos diferentes para cruzar a rua; estabelecimentos restritos a não judeus e outras formas irracionais de segregação. Entretanto, hoje, parecemos estar apoiando esse – vejam as aspas- “bom nazismo”, o qual segrega, diferencia etnicamente e, em última análise, humilha. Mas será mesmo por uma boa causa?

Temos poucos negros em nossa universidade? Sim, é fato estatístico, todavia as reformas de base deveriam iniciar pela base do problema e não pelo topo da pirâmide.

O estado é único, e prima de mesma forma para todos. Se as instituições de ensino público são responsabilidades do governo e a atenção é dada de maneira igualitária para todas as escolas, como pode um aluno declarado cotista - por não ter as mesmas oportunidades de estudo que os não cotistas - alcançar uma pontuação superior à maioria das conseguidas por alunos ditos “melhores preparados” (escolas particulares)? Por qual razão, alunos cotistas classificados nos primeiros lugares pelas cotas em seus respectivos cursos conseguiram médias superiores a inúmeros outros classificados pelo acesso universal?

Existe um grande abismo que separa a oportunidade de estudo da regalia desmedida. Alguém com ambição de mudar seu quadro social através dos estudos deve apoiar-se em seu esforço e mérito, e não em uma brecha - proposital ou não- deixada no sistema de seleção.

O Brasil quer igualdade, quer progresso? Pois bem, todos queremos. Apoiamos incondicionalmente a inclusão social, entretanto uma inclusão realmente inclui quando nenhuma parte do todo é retirada. Caso contrário, não estamos à beira de uma revolução social, mas sim de uma substituição disfarçada.

O grande donatário de privilégios não é a direita nem a esquerda, mas sim o estado que agora pode esbanjar dados favoráveis quanto ao ingresso ao ensino superior, e conseguir esmolas dos financiadores internacionais.

A reforma não deve ser somente paliativa para sanar problemas gritantes, deve ser de base e bem estruturada. Não devemos abrir as portas das nossas universidades a “pseudocotistas” -despreparados e oportunistas -, mas aperfeiçoar o ensino e dar oportunidades iguais àqueles que realmente querem estudar. Para assim fazer, devemos expandir significativamente projetos de cursos pré-vestibulares gratuitos, onde só chegarão vestibulandos realmente interessados em alcançar um lugar na vida.

Queremos estudar? Comecemos agora! O vestibular é a melhor forma de testarmos nossa capacidade de obstinação. Pular esta etapa é chegar ao fim profissionalmente desqualificado.




Onde Moram Os Senhores da Guerra?




O que há em comum entre semitas e africanos? Para um etnólogo essa questão deve ser extremamente simples, visto que ambas as civilizações se desenvolveram muito próximas uma da outra, provavelmente sofrendo influências recíprocas. Uma reflexão contemporânea mais aguçada, entretanto, mostra-nos que, apesar de tão semelhantes, existe um abismo entre elas.

Em um conflito que durou pouco mais de três semanas, morreram cerca de 1300 pessoas da população da faixa de Gaza e pelo menos 10 soldados israelenses, sendo que destes, 3 foram por fogo amigo.

A mídia já calejou o mundo com notícias de inumeráveis batalhas, acordos não cumpridos e muito sangue do conflito árabe-israelense revisitado. Toda a massa de hipnotizados pela janela alienante está a par de cada detalhe, e de cada –suposta- razão que move, e moveu essa sangria desenfreada e ignorante entre povos irmãos. Contudo, se deve fazer uma ressalva a dados curiosos: a mesma mídia que perpetua capas de jornais de alta circulação com informações do conflito “pop”, é a mesma que ainda está encabulada em relação a existência de um conflito de proporções incomparáveis. Enquanto a faixa de Gaza foi – literalmente – um palco de atrações para todas as grandes agências de notícias do mundo, que acompanharam dia-a-dia, tiro a tiro o desenrolar dessa novela oriental, findada com um saldo total de aproximadamente 1310 mortos, Darfur segue seu martírio que perdura, oficialmente, desde 26 de Fevereiro de 2003, e que nesse relativo curto espaço de tempo já vitimou mais de 200.000 pessoas, segundo estimativas – “otimistas”- de ONGs que unem esforços no local para voltar as atenções do mundo a esse sangrento genocídio.

A questão é: por que um conflito no norte da África, entre tribos desnutridas e milícias despreparadas, se estende por tanto tempo, causando tanta destruição sem a intervenção das “grandes nações”? O que motiva esse descaso? Onde está o Conselho de Segurança da ONU? E os riscos que essas milícias podem trazer ao ocidente se resolverem, porventura, apoiar o terrorismo? Onde está a política de segurança nacional norte-americana? Saddam Hussein foi sentenciado à morte pelo massacre de 148 xiitas da aldeia de Dujail. Se assassinar 148 pessoas – número provavelmente “irrisório” nas listas de muitos de nossos famosos traficantes cariocas – é suficiente para ser condenado por crimes contra a humanidade, porque um mesmo tribunal não é implantado imediatamente para encerrar com essa lástima africana? Ou melhor, porque, além disso, não se é instaurado,concomitantemente, um outro tribunal para avaliar a ação israelense na faixa de gaza? A morte desses 1300 palestinos, considerando que dentre eles aproximadamente 700 eram civis, e ao menos, 400 crianças, soa como um extermínio desmedido, genocídio. Essas palavras bastante ligadas à, em muitas vezes, dolorosa história hebraica, deveriam ser a mola propulsora de campanhas judaicas ferozes visando coibir toda e qualquer atitude que remonte os tempos do holocausto; pois quem cala consente, e não deveria ser assim, nem na África, tampouco no jardim judeu.

O que está havendo? A ascensão de Barack Obama ao trono, dia 20 de Janeiro, garantiu a completa retirada das tropas Israelenses no dia subsequente do território palestino; entretanto, apesar das incontáveis publicações revelando a orgulhosa descendência queniana no imperador do mundo, as tropas dos janjawid, a milícia armada possivelmente apoiadas sorrateiramente pelo governo sudanês, continuam sendo os algozes do genocídio africano.

Não se pode resumir ou simplesmente restringir a uma ou duas razões as causas que levaram a conflitos tão complexos; a política é um imbróglio caótico. O conflito armado com o Hamas e a política ambiciosa e irracional movida pelo capitalismo selvagem neocolonialista do século XIX, cuja política de partilha da África colocou tribos rivais, de culturas dissonantes, em um mesmo território, como no caso de Darfur, não são os principais motivos que fazem essas guerras e genocídios se estenderem – ou não. Existem muitos interesses externos; principalmente interesse em angariar apoio da opinião pública. E, para isso, segue o jogo de xadrez com vidas humanas; segue a banalização do direito à vida, mas jamais a banalização do direito à propriedade.

Conflitos criados, genocídios ignorados. O que é interessante é esmiuçado, sugado, aproveitado ao máximo. O que não o é, é relegado ao um segundo plano, ignorado completa e absolutamente. Nessa montanha russa que é o capitalismo consumista e sedento, a guerra é um promissor investimento; com individualização dos lucros e socialização das perdas.

Assim é a vida: uns morrem para outros viverem – e viverem muito bem, diga-se de passagem.